Lopo do Nascimento, o ex-PM que Agostinho Neto indicava para o substituir
Lisboa
– Lopo Fortunato Ferreira do Nascimento, é uma das mais emblemáticas
figura viva da política angolana. Dentro do MPLA, diz-se que foi
sempre considerado a quarta figura no seio do partido, isto depois da
Independência. A nível externo, é da consideração do ex- SG da ONU, Kofi
Annan e era da estima do falecido líder sul africano, Nelson Mandela.
Fonte: Club-k.net
O único que ofusca o brilho do chefe
A
sua saída do partido Comunista, em 1955, foi em consequência da
decisão consensual dos seus mentores que notaram que não havia
condições para a sobrevivência do partido achando por bem, passarem
para outra organização que seria o movimento interno, de luta para a
independência, o Mina, e subsequentemente ao MPLA. Com ele estavam
figuras como António Jacinto , Mário António Fernandes de Oliveira,
Ilídio Machado , e outros.
Em
Luanda, Lopo foi preso, por duas ocasiões pelo regime colonial. A
primeira vez seria em 1956, e posteriormente, em 1963, pela PIDE-DGS
acabando por conhecer a liberdade em 1968. Na altura, era trabalhador
das Empresas de Cervejas de Angola (ECA), ao qual notabilizou-se como
Presidente da Comissão Sindical dos Trabalhadores.
A fuga para o exterior
Em
1973, recebeu uma indicação de um alto responsável do MPLA, na Suíça,
Saidi Vieira Dias Mingas para abandonar Angola, com a sua família e se
juntar a direção do movimento no exterior para reforçar o apoio ao
Presidente Agostinho Neto que se encontrava abalado com os problemas
internos relacionados a “revolta activa” e a “revolta do leste”.
A
época, a ECA, onde Lopo do Nascimento trabalhava oferecia aos seus
quadros uma licença anual para visitarem Portugal. Lopo, entretanto,
aproveitaria esta licença de viagem para junto com a esposa Maria do
Carmo Assis do Nascimento e dois filhos, partirem para Lisboa, no
inicio de 1974. Através da ajuda de padres, em Lisboa, este político e
a família seguiram clandestinamente para Madrid, Espanha, onde
permaneceram por duas semanas a viver num lar de seminaristas católicos
até obterem documentos, que os habilitou a saírem para Argel, onde
lhes apanha o 25 de Abril (Golpe militar ocorrido em Portugal) e por
final para Brazzaville, onde se encontrava a direção do MPLA.
Lopo
faria, então parte da primeira delegação do MPLA, que reforçou a
Frente Norte para apoiar o líder do movimento, António Agostinho Neto.
Com ele, fizeram-se presentes Hermínio Escórcio, Mendes de Carvalho, Noé
Saúde entre outros nacionalistas.
Na
Frente Norte, Lopo do Nascimento é colocado no departamento de
informação e propaganda do MPLA, e neste mesmo ano participa na
conferencia Inter- Regional de quadros e Militantes, onde é eleito para o
Comité Central e designado para Secretário do Bureau Político, funções
que exerceu até inicio de 1975. É nesta posição que o mesmo faz parte da
delegação do MPLA, as conversações de Mombaça (Quénia) e de Alvor
(Portugal).
No
seguimento das conversações dos acordos de Alvor, em Portugal, ele
seria indicado para Primeiro Ministro do Colégio presidencial do governo
de transição, em 1975.
A
esta altura, revelava-se delfim de António Agostinho Neto. A dado
momento, Lopo, e outros camaradas como José Eduardo dos Santos eram os
quadros a quem a direção do MPLA, planeava coloca-los, em Campala,
Uganda, para a partir deste país proclamarem a independência de Angola
caso se consumasse a tomada de Luanda pela FNLA que contava com apoio
de tropas Zairense a partir do norte e a partir do sul pelo exercito da
racista África do sul que na altura invadiam o país.
O
plano foi desnecessário porque o MPLA ganhou terreno em Luanda, pondo
de parte os outros dois movimentos de libertação nacional. Face as
confrontações violentas que se verificavam no país, em Julho de 1975,
Lopo do Nascimento entrou em negociações com a FNLA, através de Ngola
Kabangu para preparar a saída de Luanda, dos dirigentes daquele partido
que integravam o governo de transição.
Desentendimentos com Agostinho Neto e a saída do país
Logo
após a proclamação da Independência, Lopo do Nascimento ficou durante
um ano como Ministro do Comercio Interno e posteriormente Ministro do
Comercio Externo. Deixou o governo no decorrer de desentendimentos com
o Presidente Agostinho Neto que lhe acusara de “tendências burguesas”.
Durante
o período de desentendimento com o Presidente Neto, Lopo do
Nascimento mudou-se para Adis Abeba, onde estava colocado como
Secretário Geral Adjunto da Comissão Económica da Organização de
Unidade de África (OUA). Lopo do Nascimento, segundo considerações
plausíveis, se tornaria assim no primeiro e até agora o único angolano
que chegou mais longe na chefia de uma missão internacional.
Com
a morte de Agostinho Neto, ele regressaria ao país, a pedido do
actual Presidente José Eduardo dos Santos que o convida para fazer
parte do seu governo como ministro do plano, cargo que exerceu até 1986.
Depois foi nomeado governador provincial da Huíla e posteriormente
Ministro da Administração do Território.
O governador que introduziu reformas na Huíla
Lopo
do Nascimento ficou com a reputação de ter sido o primeiro governador
provincial da Huíla que introduziu reformas econômicas naquela
província enquanto que o regime de Luanda persistia com o socialismo
de Estado. A sua governação foi marcada com excedentes de produção que
não se conseguiu comercializar. Ele estimulou a agricultura familiar e a
tração animal que revolucionou a produção na província da Huíla.
Ainda
no seu consulado, o então governador criou o Gabinete Regional de
Planificação no Sul de Angola que fez imensos inquéritos/estudo e
estabeleceu relações com ONGs ainda em finais dos anos 80.
De
acordo com considerações competentes, Lopo do Nascimento terá posto em
prática algumas das suas concepções de desenvolvimento baseadas num
pragmatismo entre o socialismo e a economia de mercado.
Em
Novembro de 1990, ele foi demitido do cargo de governador provincial,
e seria automaticamente nomeado para, em comissão ordinária de
serviço, exercer o cargo de assistente especial do Presidente da
República para os assuntos políticos.
A
Huíla, denota ser a localidade que lhe causam boas lembranças. Nos dias
de hoje quando o mesmo se cruza com entidades daquela província
procura saber como estão as instituições comunitárias, o poder
tradicional, e as famílias que fabricam o chouriço caseiros, se está a
chover, etc.
Papel como mediador dos acordos de paz com a UNITA
Com
o calar das armas em Angola, Lopo do Nascimento, tornou-se no
primeiro dirigente do MPLA, a visitar a Jamba, antigo bastião da UNITA.
Desde então Jonas Savimbi passou a expressar estima por ele. A certa
altura, os homens de Savimbi queixavam-se de incumprimentos na
aplicação dos acordos de Bicesse e ao mesmo tempo, o regime havia
colocado o general António França “Ndalu”, em substituição de Lopo. A
substituição irritaria completamente a UNITA.
Em
Setembro de 1991, o “Galo Negro”, reagiria dizendo que “A UNITA está
disposta a enviar para a CCPM o seu Vice-Presidente ENG. JEREMIAS
KALANDULA CHITUNDA, desde que o Ministro LOPO FORTUNATO FERREIRA DO
NASCIMENTO, ambos hábeis negociadores dos Acordos de Estoril, reapareça
como dirigente da Delegação do Governo da RPA na CCPM. De contrário, a
UNITA vai reconsiderar imediatamente a sua participação nos trabalhos da
CCPM.”
A
aceitação interna e externa que Lopo de Nascimento passou a ter,
naquela época eleitoral, seriam, reconfirmadas em sondagens de
especialistas brasileiros que se encontravam em Luanda a assessorar a
campanha eleitoral do MPLA. Os brasileiros, viam em Lopo uma figura
que reunia consenso de todos os lados políticos e com uma positiva
dimensão internacional, razão pelo qual sugeriram a dada altura que
fosse ele a conduzir o processo de transição em Angola mas na
condição de não poder ser também candidato presidencial para não tomar
vantagem. A proposta seria automaticamente rejeitada por JES.
Divergências com JES e o afastamento do Comité Central
Lopo
do Nascimento seria mais tarde o Secretário Geral do partido que
substituiu Marcolino José Carlos Moco, na década de 90. Como numero
“dois”, do partido, a época, Lopo conservou o seu carisma e ao mesmo
tempo os militantes passaram a ver nele como alguém com habilidades para
se tornar num possível substituto de José Eduardo dos Santos, seu
virtual opositor interno.
Ele
seria afastado do cargo partidário no chamado “congresso da Batota”,
conforme designou a imprensa privada angolana. A expressão “congresso
da batota”, surgiu por ter sido ele (Lopo) a organizar o congresso mas
paralelamente, havia um outro grupo sombra, a época conduzido pela
então directora dos Serviços de Informações (SINFO), Mariana Lisboa.
Na
justificação, apresentada na altura, por entidades do circulo
presidencial, dizia-se que JES via lacunas no trabalho de Lopo de
Nascimento achando que o seu trabalho estaria a enfraquecer o partido e
que havia um “vacum”, muito grande entre a direção do MPLA e os seus
militantes. JES, conforme leitura dos seus colaboradores, achava que
Lopo não se empenhava o suficiente. Ao mesmo tempo foi dissertando,
sobre a sua posição em varias reuniões do Comité Central e do Bureau
Político até ter chegado o congresso preparado por Lopo como lhe cabia
organizar como SG. Através da estrutura paralela conduzida pelo SINFO,
JES expulsou do Bureau Político e do Comité Central, Lopo do
Nascimento, Lúcio Lara, Marcolino Moco e outros.
Antes
de Lopo do Nascimento ser afastado, dos órgãos do partido, o então
líder do ANC, Nelson Mandela que tinha estima sobre a sua pessoa,
despachou discretamente um emissário a Luanda, a fim de alertar ao então
SG do MPLA que estava em curso o processo do seu isolamento político.
De inicio, Lopo não acreditou julgando ter tido boa parte dos
congressistas consigo, uma vez que foi ele quem organizou o conclave. O
“congresso da batota” ficou também notabilizado com o único em que se
fez recurso a contagem paralela dos votos.
Retirada para paris e o convite de Kofi Annan
Após
ter sido afastado dos órgãos do partido, Lopo decidiu partir para
França, onde estudou relações internacional, na Escola de Altos
Estudos Internacionais de Paris. Foi colega de Isaías Samakuva, a época
representante da UNITA, em França.
Enquanto
esteve em paris, Lopo do Nascimento declinou, em 2000, um convite de
Kofi Annan que o queria como mediador do conflito no Burundi. Como
alternativa, o ex- SG da ONU, endereçou o convite a um outro renomado
africano, o ex- Presidente Sul africano, Nelson Mandela, ao qual
aceitou. De realçar que Lopo e Kofi Annan, são amigos de longa data
desde o tempo, em que um era funcionário das Nações Unidas e o outro na
Organização da Unidade Africana (OUA).
O lado presidenciavél
Apesar
de ter estado afastado da política e do país, Lopo continuava a
galvanizar aceitação em Angola. Em 2000, o extinto Partido de Apoio e
Desenvolvimento de Angola (PADEPA), uma formação política formada por
jovens veio publicamente manifestar que teria gosto de apoiar uma
eventual candidatura de Lopo ao cargo de Presidente da República.
Meses depois, Lopo que se encontrava a fazer a formação em paris,
deslocou-se a Luanda tendo recebido a direção do PADEPA, no seu
escritório, algures na Maianga. No decorrer da audiência, o ex-
Primeiro Ministro transmitiu aos seus interlocutores que os seus
compromissos e ambições se enquadravam apenas dentro das politicas do
seu, partido o MPLA.
Dois
anos depois, Lopo deslocou-se a Cabo Verde, e a partir desde pais,
anunciou a sua predisposição para candidatar-se à Presidência angolana
se essa fosse a vontade das «bases» do MPLA.
Na
verdade, o lado presidenciavel de Lopo, começou a surgir já desde a
época de Agostinho Neto que dava sinais de o ter como seu “delfim”.
Sempre que Neto se ausenta-se do país indicava Lopo como Presidente em
exercício, conforme se pode ler na integra do Despacho DR 62/76,
assinado em Março de 1976, pelo então Presidente da República, António
Agostinho Neto: “Ausentando-me para as Repúblicas da Guiné-Konacry,
Guiné-Bissau, Cabo-Verde e S. Tomé, em visita oficial, nomeio para
substituir-me, durante a minha ausência, o camarada Lopo Fortunato
Ferreira do Nascimento, Primeiro-Ministro da República de Angola.”
Reaproximação com Eduardo dos Santos
Em
Setembro de 2011, após ter negado varias vezes, Lopo ficou sem saída e
acabou por reconsiderar um convite do Movimento Nacional Espontâneo
que o desejava ter numa jornada como orador para falar sobre a Vida e
Obra de JES.
Antes de anunciar
abandono a vida política activa teve encontros privados com JES que o
tentou persuadir a aguentar mais um pouco no parlamento.
A
reaproximação que passou a ter com JES é também reflectida na forma
respeitosa com que membros do circulo presidencial passaram a ter em
si. Num certo dia, Lopo do Nascimento manifestou interesse de ir ter
com o general Leopoldino do Nascimento “Dino” que se encontrava no
seu gabinete no 25 andar do edifício CIF- China International Fund, em
Luanda. Ao telefone, o general Dino transmitiu-lhe que por respeito e
por ser mais novo, seria ele a ir aos escritório de Lopo, para
ouvir as preocupações deste veterano político e não o contrario.
Os negócios particulares
A
semelhança dos membros do regime, este antigo Primeiro Ministro também
esta no mundo dos negócios em Angola. Em 2010, Lopo do Nascimento
formou um consórcio empresarial com a empresa pública Sonangol, que
adquiriu 49 porcento da Coba, ao mesmo tempo que era deputado na
Assembleia Nacional.
Em 2011, assumiu
o cargo de presidente do Conselho-Geral e de Supervisão da Coba, uma
das maiores empresas portuguesas de consultoria em engenharia civil e
ambiental.
É
também apresentado como acionista do Banco Comercial de Angola (BCA),
ao lado de Augusto Tomas, Marcolino José Carlos Moco e França
Van-Dunem.
Retirado
que está da política activa, Lopo do Nascimento esta no activismo
cívico como Presidente do Conselho Fiscal da Associação Liga Nacional
Africana. Ao mesmo tempo diz-se que é presentemente o único dirigente
que consegue brilhar tanto fora como dentro do partido. Geralmente os
membros do regime deixam de brilhar quando caem em desgraça política.
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